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Que os jovens no Brasil carecem de políticas públicas não é nenhuma novidade; e que as existentes são insuficientes e pouco conseguem amenizar as diferenças históricas é um fato provado em números. Entretanto, o que era ruim ficou ainda pior com a pandemia mundial da Covid-19.
Os jovens são aqueles que sofrem os maiores impactos da desigualdade social e tecnológica, da redução de renda e do aumento do desemprego. É inegável que os impactos da pandemia para essa parcela da população são estarrecedores, em especial quando se trata de saúde mental. Em pesquisa, o Conselho Nacional da Juventude (Conjuve) afirma: 75% dos jovens têm medo de perder sua família e 48% temem perder sua saúde. A ansiedade, o tédio e a impaciência são sentimentos mais presentes durante o isolamento social.
E os desafios dos jovens para estudar em casa não estão na falta de tempo ou no aparato tecnológico disponível, mas no equilíbrio emocional, na dificuldade de organização para o estudo a distância e na falta de um ambiente tranquilo em casa. Por outro lado, diante do isolamento, da dificuldade de práticas esportivas coletivas e da dificuldade de acesso a lazer em grupos surge um sentimento positivo: o acolhimento, que pode estar relacionado tanto ao convívio familiar quanto às interações remotas, segundo a pesquisa.
Este certamente é um dos cenários mais desafiadores que o mundo tem pela frente, em especial aqui no Brasil, onde já vivenciávamos enorme dificuldade com o aumento da drogadição, do consumo de álcool e de números preocupantes de evasão escolar. E esses não são problemas que podem ser resolvidos apenas com políticas públicas: os jovens precisam de (muito) mais, precisam de amor, de orientação, de processos de construção que vão muito além dos espaços escolares e acadêmicos. Eles precisam de construção de sentimentos que venham de vínculos afetivos, frutos do acolhimento.
Nunca precisamos tanto um dos cuidados do outro, um do respeito do outro, um do afastamento do outro para a manutenção de nossa própria saúde. Precisamos nos cuidar sem necessariamente estarmos juntos, precisamos ser solidários, sem necessariamente abraçar. Nesse cenário em que o número de transtornos mentais aumenta entre todos, mas em especial entre os jovens, cabe aos adultos oferecer ajuda, acolher, cuidar...
Abra a porta do quarto, escute o que o jovem fala, com quem fala, onde e como se fala. O jovem no quarto pode estar pedindo socorro sem gritar, sem chorar, sem falar. Abra a porta.